Dialogando com man ray na baÍA DE GUANABARA | 2018
Dialogando com Man Ray na Baía de Guanabara
Inspirado pela obra "La Baigneuse" (1808), de Ingres, Man Ray fotografou a modelo Kiki de Montparnasse, de costas em pose semelhante, nua usando apenas um elegante turbante para criar a obra "Le Violon d'Ingres" (1924). Man Ray transformou o corpo feminino em um instrumento musical, pintando buracos de som em suas costas, brincando com a idéia de objetivação de um corpo animado, inaugurando o movimento Dadaísta.
Por sua vez, a obra "La Baigneuse" foi elaborada por Ingres entusiasmado (inspirado) pelas obras de Rafael Sanzio; que viveu entre 1483 e 1520, pintando diversos nus femininos, de linhas sinuosas, desenho exato e formas puras, com um sentido irreal, exótico, próprio do século XVIII. Um recorrente fio condutor interligando inspiração sobre inspiração ao longo da história.
Ao resgatar Man Ray como referência hoje, integro minha obra "Dialogando com Man Ray na Baía de Guanabara" ao tema proposto pela coletiva "Uma Afirmação da Presença". "A proposta é estimular o estudo e a produção de uma obra que gere uma ponte entre uma referência conceitual da escolha de cada artista ao longo da História da Arte com as ferramentas de hoje", informavam as curadoras no convite feito aos artistas em março de 2018.
Pois bem, utilizando o recurso da justaposição (digital), acrescentei uma pequena bandeira vermelha à figura original de Kiki, criando a obra "Dialogando com Man Ray", que inaugura, inclusive, o desdobramento da série "Sinais Limite nos Instantes da Cidade" (iniciada em 2012) intitulado "Sinais Limite_DESLOCAMENTO". A serie agora questionaliza a universalidade de certos códigos e suas potencialidades quando deslocados de seus ambientes e simbolismos de origem.
Em outra leitura, a obra "Dialogando com Man Ray" também alerta sobre os dias de hoje, a falta de privacidade, liberdade, individualidade. Minha musa (sim, Kiki agora também é minha musa) encontra- se isolada em uma pedra, mais precisamente em Paquetá, no "meio" da linda (mas super poluída) Baía de Guanabara. A obra também alerta sobre o descaso generalizado típico de nosso tempo, com a natureza que tanto dependemos, com a miscigenação e multiplicidade dos habitantes de um mundo absolutamente surreal como o de hoje (só para acrescentar, além de Dadaísta, Man Ray também foi Surrealista).
Assim como Man Ray é representado por uma figura feminina à frente de seu tempo, simbolizando na obra, inclusive, as diversas minorias de nossa sociedade, minha persona enquanto artista visual (auto retrato solicitado pela curadoria) é representada por um recorte de nossa contemporaneidade que faz falar algo que é outra coisa: a bandeira de sinalização de mar impróprio ao homem, símbolo de perigos, correntezas e instabilidades recorrentes. Assim como a vida, a arte (e os artistas) urge(m).
André Bauduin | 2018
Dialogando com Man Ray na Baía de Guanabara
2018, 75x100 cm, assemblage, fotografia, metacrilato
UMA AFIRMAÇÃO DA PRESENÇA _ jun-ago 2018
Centro Cultural dos Correios
Curadoria: Lúcia Avancini e Marilou Winograd